Influenciada principalmente pelo bom desempenho do setor de bens de capital, a indústria interrompeu uma
sequência de oito quedas trimestrais e voltou a crescer no segundo trimestre do ano, trajetória que deve contribuir
positivamente com o Produto Interno Bruto (PIB) no período. De maio para junho, a produção industrial avançou
1,1%, feitos os ajustes sazonais, quarta alta seguida nessa comparação, segundo a Pesquisa Industrial Mensal-
Produção Física, divulgada ontem pelo IBGE.
Com o resultado do mês, a produção subiu 1,2% de abril a junho em relação aos três meses anteriores, também na
comparação dessazonalizada. A última alta trimestral ocorreu no primeiro trimestre de 2014, quando a atividade
industrial ficou praticamente estável (expansão de 0,03%). Na avaliação de economistas, o aumento da confiança e
o ajuste de estoques explicam a volta do setor ao campo positivo, assim como a taxa de câmbio em nível mais
depreciado.
Para o segundo semestre, a expectativa é que o setor externo siga
como o vetor de retomada da indústria, ainda que modesta, uma vez
que não há perspectiva de reação da demanda doméstica. Já a
atividade econômica como um todo deve voltar a crescer, em bases
trimestrais, entre o fim de 2016 e o início de 2017.
Na passagem mensal, 18 dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE
elevaram sua produção, com destaque para veículos automotores,
reboques e carrocerias (8,4%), perfumaria e metalurgia, ambas com
altas de 4,7%. Todas as quatro grandes categorias econômicas tiveram resultado positivo em junho. O aumento
mais expressivo, de 2,1%, veio do segmento de bens de capital, que está em ascensão desde janeiro e cresceu 6,6%
entre o primeiro e o segundo trimestre, descontados os fatores sazonais.
A reação da indústria em junho foi abrangente, diz Luciano Sobral, economista do Santander -atingiu 70% dos 103
subsetores analisados pelo IBGE. No mês anterior, o índice de difusão industrial havia ficado em 59%. Caso o
mercado financeiro e o ambiente político continuem com comportamento mais estável, afirma, a recuperação do
setor deve ser duradoura.
Para Sobral, a indústria está saindo de um círculo vicioso, com retração forte da demanda doméstica, para outro
mais favorável e influenciado principalmente pelo setor externo. Em sua visão, o câmbio mais competitivo e a
baixa base de comparação explicam o crescimento da produção no segundo trimestre. Em menor medida, avalia, a
melhora dos indicadores de confiança também teve alguma influência positiva no período.
Já David Beker e Ana Madeira, economistas do Bank of America Merrill Lynch , mencionam a reação dos índices
de confiança como principal indutor da estabilização em curso no setor industrial. Para Beker, os dados de
produção de junho são consistentes com a análise de que haverá inflexão da atividade mais adiante. No cenário do
banco, a economia voltará a crescer no último trimestre de 2016.
O dado geral da indústria também mostra redução no ritmo de quedas na comparação anual. Em junho, a
produção caiu 6% em relação a igual mês do ano anterior, retração mais fraca do que as observadas em abril e
maio, de 6,8% e 7,5%, respectivamente. No segundo trimestre, o recuo foi de 6,7%, também menor que o tombo de
11,5% registrado de janeiro até março.
Segundo o gerente da coordenação de indústria do IBGE, André Macedo, o comportamento menos negativo do
setor reflete a combinação da melhora das expectativas, do ajuste nos estoques e do aumento das exportações, em
função do câmbio mais favorável. Algumas atividades como metalurgia, produção de alimentos, calçados e
vestuário se beneficiam do dólar em patamar mais elevado, disse Macedo, mas a maior produção nesses segmentos
não é suficiente para compensar o sinal negativo da demanda doméstica.
Na comparação com o primeiro trimestre, a expansão da produção é um indicativo de que a indústria vai
contribuir positivamente para o resultado trimestral do PIB, destacou, dado que será divulgado no dia 31 de
agosto. "A indústria está num comportamento melhor do que no início do ano e do final do ano passado", reforçou
Macedo.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), aponta que uma
trajetória de recuperação consistente no setor ainda não está dada, tendo em vista a recente valorização do câmbio.
O comportamento da indústria de bens de capital, no entanto, pode indicar que os investimentos devem ao menos
parar de cair no segundo trimestre.
De abril a junho, observa ele, a produção de bens de capital para a indústria diminuiu 3,9% sobre o mesmo período
de 2015, depois de ter recuado 13,6%, em igual comparação, no primeiro trimestre. "Este é um dado alentador".
Parte da queda menor se deve ao aumento da confiança empresarial, afirma, mas a necessidade de substituir
máquinas e equipamentos obsoletos depois de um longo período de queda dos investimentos em capital fixo seria
o principal impulso.
Todos os segmentos de bens de capital pesquisados pelo IBGE apresentaram melhora no segundo trimestre, na
comparação com igual período de 2015. O único setor que cresceu nessa análise foi o de bens de capital para
energia, que deixou queda de 12,9% de janeiro a março e avançou 4,8% de abril a junho. A queda na produção de
bens de capital agrícolas passou de 33,4% para 8,9%, enquanto a retração no setor de transporte diminuiu de
28,7% para 10% e, no de construção, de 51,3% para 16,6%. |