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25/09/2015 - 05:00

Usiminas elabora plano para enfrentar crise

Um ano após a mudança polêmica do presidente e dois diretor-executivos, afastados pelo conselho de administração, a siderúrgica Usiminas busca soluções para enfrentar um cenário de crise na demanda por aço pelo menos até o fim de 2016.

A empresa, que viveu até meados deste ano sob intenso fogo cruzado da briga travada entre Nippon Steel & Sumitomo e Ternium - Techint - acionistas controladores -, deve finalizar em breve um "plano de sobrevivência" até lá. As medidas vão de ajustes operacionais e cortes de custos até alongamento da dívida, passando por venda de bens e ativos.

Com a forte retração do consumo pelos principais setores que utilizam aço, a empresa acaba de desativar seu laminador de chapa grossa, localizado na unidade de Cubatão (SP) - a atinga Cosipa. Esse aço é utilizado em grande parte em aplicações na indústria naval, de máquinas pesadas e de veículos e implementos agrícolas. A empresa possui outro lamindador de capacidade igual, porém mais moderno, na usina de Ipatinga (MG).

A parada total do equipamento deve ocorrer nos próximos dias e vai reduzir pela metade a capacidade total da companhia nesse segmento, de 2 milhões de toneladas por ano. Com isso, agora toda a produção de chapas grossas será concentrada em Minas, que pode garantir maior produtividade para a empresa.

Mercado espera, para este trimestre, perdas nos balanços das siderúrgicas no país: Usiminas, CSN e Gerdau

A Usiminas está chamando esse processo, que visa reduzir custos fixos, como os de energia e pessoal, e ociosidade nas linhas de produção de "racionalização" de suas operações. "O objetivo é adequá-la ao baixo nível de demanda, contribuindo para preservar a competitividade", afirmou a empresa em nota ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.

No primeiro semestre, o grupo mineiro vendeu 531 mil toneladas de chapas grossas, queda de 13% ante igual período de 2014. Essa quantidade, anualizada, resultaria em volume comercializado de 1,06 milhão de toneladas, ou seja, quase metade de ociosidade da capacidade instalada. Segundo a Usiminas, a unidade tem condições de produzir aço de melhor qualidade e destiná-lo a um maior número de mercados.

No fim de maio, a companhia já havia decidido desligar um de seus altos-fornos em Cubatão, para tentar reduzir a ociosidade de suas operações. Em Ipatinga, também foi paralisado outro alto-forno. A desativação do laminador tende a ser seguida por outras ações que integram o plano elaborado pela diretoriaexecutiva, comandada por Romel de Souza, executivo da casa - mais de 30 anos na empresa - que substituiu o argentino Julian Egúren. O ex-presidente e dois outros diretores estatutários indicados pela Ternium foram alvo de auditorias internas que descobriram irregularidades em pagamentos de bônus e remunerações. A acionista apelou em várias instâncias da Justiça, mas não conseguiu reverter o afastamento dos executivos.

Depois de se digladiarem nos fóruns da Justiça e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Ternium e Nippon Steel - diante dos estragos causados à empresa e perante uma crise de mercado que afeta fortemente os resultados siderúrgica - decidiram, em conjunto, dar maior suporte à direção da empresa para que ela possa sobreviver nesse período de vacas magras.
As duas acionistas, no entanto, continuam com visões divergentes sobre a gestão da siderúrgica. A alta direção de ambas as companhias juntamente com executivos do alto escalão dos dois grupos, deverá se reunir em outubro em Chicago, EUA, para terem uma conversa mais madura sobre rumos futuros de suas participações como acionistas da companhia mineira. A Nippon tem reiterado que não tem interesse em sair do país e muito menos do capital de Usiminas. A Ternium, por sua vez, pagou caro para entrar - R$ 5,1 bilhões no fim de 2011 - e mais R$ 617 milhões no ano passado para elevar sua fatia. Com a crise atual, vai ser difícil vender sua participação e não parece ser essa a intenção de momento a valores abaixo desse patamar.

Devido ao elevado custo de produção, até US$ 57 a tonelada, a Usiminas parou as exportações de
minério de ferro.
Em termos de desempenho da Usiminas, o mercado espera para este trimestre prejuízo nos balanços de
siderúrgicas no país - Usiminas e CSN até Gerdau. Além da retração da demanda de aço no mercado brasileiro, que já é de dois dígitos, elas sofrerão forte impacto do câmbio em seus endividamentos em dólar, embora estejam com boa parte do passivo hedgeada.
No caso de Usiminas, desde o ano passado o consumo de aço caiu nos principais setores que são clientes da
empresa - automotivo, de máquinas e equipamentos, linha branca, tubos de pequenos e grande diâmetro e
construção civil - da ordem de 20%. O consumo de aços planos no país, que em 2012 foi da ordem de 14 milhões de toneladas, deve encerrar este ano com pouco mais de 11 milhões e as estimativas para 2016 são da ordem de 10 milhões de toneladas.

O plano em fase final de maturação, conforme apurou o Valor, envolve alongamento da dívida até 2017, vendas de alguns ativos - de imóveis (incluindo até a sede na cidade de Belo Horizonte) a participações em ativos - e um forte ajuste nas operações industriais - usinas de Ipatinga e Cubatão, unidades de distribuição e tubos e Usiminas Mecânica (fabricante de bens de capital). A controlada Mineração Usiminas, que extrai minério de ferro, está operando com dois terços de ociosidade, pois parou de exportar neste semestre com a queda do preço da matéria-prima para níveis de US$ 55 a tonelada no mercado internacional. O custo da mineradora, do produto colocado no porto do cliente, era de US$ 55 a US$ 57. A empresa tem capacidade de 12 milhões de toneladas por ano.

No fim de junho, conforme o último balanço, a siderúrgica tinha uma dívida bruta de R$ 7,6 bilhões e líquida, de R$ 4,72 bilhões. esse perfil representa um caixa de R$ 2,89 bilhões. Mas a situação tende a se deteriorar a partir deste trimestre, quando analistas de mercado estimam um resultado operacional (Ebitda) de no máximo R$ 150 milhões. O resultado não deverá ser diferente no trimestre outubro-dezembro. As margens do Ebitda da siderúrgica, que já vieram baixas nos últimos trimestres, podem se apresentar ainda mais estreitas.
A companhia deverá estourar covenants (cláusulas de limites de endividamento), o que pode dar direito de
antecipação de pagamentos de dívidas. Isso obriga a siderúrgica a negociar com bancos privados, o BNDES e
bancos japoneses, como o JBIC, conforme apurou o Valor com fontes próximas da companhia mineira.

Procurada, a Ternium não quis se pronunciar sobre as desavenças com a Nippon Steel sobre a gestão na Usiminas. Por meio de assessoria, o grupo japonês apenas comentou "que está dando todo o suporte para que a atual diretoria da empresa, neste momento difícil, possa gerenciar a siderúrgica bem, tomar as medidas certas e encontrar soluções que possam melhorar a rentabilidade da Usiminas". Disse acreditar que Ternium-Techint tenha o mesmo comprometimento.

Fonte:
http://www.valor.com.br